Tese – Sobre Gregório de Matos

Não poderia deixar de publicar o resumo da tese, que será defendida dia 21/07/2022.

A proposta de leitura dos poemas atribuídos a Gregório de Matos e Guerra em confronto com um conjunto de poemas de Antônio da Fonseca Soares, autores que estudavam os preceptistas do século XVII, procurando superar a maestria de autoridades como Góngora e Quevedo, se apresenta como estudo de caso propício para a análise das similaridades e diferenças entre a criação poética na metrópole Portugal e de sua principal colônia, bem como dos variados usos de ferramentas retórico-poéticas e tipológicas que se adaptassem ao meio em que foram produzidas. A partir do desdobramento dos lugares comuns mais utilizados e dos retratos dos tipos coloniais e metropolitanos abordados em ambos os textos, fica nítido que a poesia atribuída a Gregório de Matos tem como característica marcante o reflexo textual das relações de poder coloniais, e a de Antônio da Fonseca carrega uma forte preocupação com a própria estrutura do poema. O resultado da leitura dos dois conjuntos de textos revela que a hierarquia entre os caracteres criados para as encenações é a espinha dorsal que regula os usos das ferramentas retórico-poéticas, e que a pesada mão da hierarquia social é representada de maneiras diferentes nos dois conjuntos de textos: na colônia ela é onipresente e cruel, ainda que apresente possibilidades de redenção, e na metrópole ela é subentendida, mas irredutível quando consultada.

Para quem visita nosso site, ou caiu aqui de paraquedas, vou atender a alguns questionamentos de acordo com o texto de minha tese, que foi defendida em 21/07/2022:

Defeitos e vícios sempre serão aqueles costumes que vão de encontro ao código moral do homem português, branco, católico, fidalgo. Isso é o que a sátira atribuída a Gregório de Matos defendia. Enfim, tudo converge para o “homem discreto”, como vemos nos versos:

Não sei, para que é nascer
neste Brasil empestado
um homem branco, e honrado
sem outra raça.

Terra tão grosseira, e crassa,
que a ninguém se tem respeito,
salvo quem mostra algum jeito
de ser Mulato.

Aqui o cão arranha o gato,

não por ser mais valentão,

mas porque sempre a um cão

outros acodem.

(…)

Que aguardas, homem honrado,
vendo tantas sem-razões,
que não vá para as nações
de Berberia.

Porque lá se te faria
com essa barbaridade
mais razão, e mais verdade,
que aqui fazem.

(MATOS, 2013, v.III, p.183)

O texto colonial atribuído a Gregório de Matos criticava amplificando de maneira extrema o que considerava defeitos dos caracteres (que seriam os personagens das sátiras), e usava os lugares comuns, que eram expressões e palavras que poderiam ser compreendidas com maior facilidade, para corrigir o que considerava vício, como quem espalha uma fofoca. A grosso modo, era dessa forma que a poesia satírica funcionava.


Por Giovani Gomes