Por Giovani Gomes
Tocou a campainha e entrou pela porta contendo fortemente a curiosidade, ainda que fosse um dia cansado e irritado pelo trânsito. Tinha uma missão. Mas a recepção estava vazia, nada além de um sofá e duas arandelas barrocas, que davam ao lugar um tom levemente místico, perfeito para as duas, de quem se podia ouvir os passos pelo corredor, suaves como cetim. A cabeça inclinou e sua mão deslizou de seu queixo até o lóbulo da própria orelha, como quem avalia a disposição das pessoas, recusando provar o desejado manjar. Então elas riram, primeiro timidamente como guizos nas pontas de um chapéu de arlequim, depois um pouco mais descontraídas por causa da retribuição que recebiam.
— Eu sou Jade. — dizia a primeira, recostada na parede com sua incrível pele, brilhante como bronze, que conduzia sempre aos lábios, que a partir dos cantos da boca pareciam nunca acabar, algo caleidoscópico. Por vezes eles eram cobertos pelos cachos volumosos, uma massa tênue que se estendia até curva perfeita da cintura, se é que existe curva imperfeita. O cheiro frutado dela intensificou com a proximidade, e os olhos negros como ônix sambavam maliciosamente, matreiros, livres, contra os seus.
A segunda deu a volta e parou ao lado, olhos rasgados, apoiando-se em uma bancada que dava acesso ao corredor de onde vieram. Menor que Jade, que devia medir 1,70m.
— E eu sou Naomi. — A voz não era suave e sim cantante e grave, um contralto belo e afinado, contrastando com a delicadeza com a qual aproximava-se perigosamente de seu alvo.
— Você pode escolher, — continuou, certamente consciente do poder de suas palavras. Sua mão já deslizava pelo braço quando outras mãos e outros braços se acariciavam, já na recepção. Naquele lugar não existia trânsito, apenas o dos corpos, e os lábios que se tocavam incansáveis, até que entraram no quarto.
Sua mão, até ali cerrada, deixou cair no chão o panfleto. As meninas a despiam de seus brincos, do vestidinho. De cada peça. Igreja Maravilhosa Graça, dizia o convite, que não precisava mais ser feito.
